domingo, 25 de julho de 2010

Aquário gigante em BH exige intensa manutenção


Nesta viagem pelo mundo das águas e dos peixes, não é preciso apertar cintos, pensar em turbulências ou arrumar bagagens. Nada disso. Basta ficar de olhos bem abertos diante do vidro gigantesco que separa universos paralelos, para encontrar encantamento e diversão que surgem de todos os lados: pode ser o desfile elegante do dourado, o chamado “rei do rio”, com a sua tonalidade ímpar; o descanso do surubim, poderoso nos seus 30kg; ou o trabalho de “faxineiro” do cascudo, sempre pronto a sugar algas que possam sujar o ambiente. O passeio por esse belo e educativo cenário está à disposição no Aquário da Bacia do Rio São Francisco, uma das atrações o ano todo, em especial nas férias, da Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte, na Pampulha.
De manhã à tarde, o movimento é intenso no zoo, com famílias inteiras interessadas em conhecer os legítimos representantes da fauna do Velho Chico, o chamado rio da unidade nacional, que nasce na Serra da Canastra, no Centro-Oeste mineiro. Curtindo os dias livres, o casal Sérgio Bambirra e Simone Pellegrini, moradores de Viçosa, na Zona da Mata, com as gêmeas, Júnia e Clara, de 11 anos, e a amiga Beatriz Oliveira Ludgero, de 12, começou a visita pelo maior dos 22 aquários existentes, o que armazena 500 mil litros de água. As meninas adoraram, posaram para fotos – sempre sem flashes, para não prejudicar os olhos dos peixes – e leram todas as informações sobre o piau-branco, piaba-do-rabo-amarelo, curimatã-pioa, matrinxã e acará. Mas, curiosas, queriam saber também como é a face oculta desse ambiente que fascina logo de cara. Inaugurado em março, o espaço tem 2 mil metros quadrados de área construída e muito para se ver. Em frente e verso.
Para entender a dinâmica do aquário, que abriga 50 espécies nativas da Bacia do São Francisco, num total de 1,3 mil peixes – estão lá também as exóticas, introduzidas de forma ilegal no rio, como tucunaré, tilápia, pacu-caranha e carpa – a viagem ao “outro lado do espelho d’água” tem como guia o biólogo da Fundação Zoobotânica de BH Thiago da Motta e Albuquerque de Carvalho. Tudo começa com o mergulho de um dos cinco tratadores, que, antes de as portas da instituição se abrirem, veste traje apropriado, com cilindro de ar-comprimido às costas, para limpar, por dentro, os vidros do tanque, fazer a sifonagem ou remoção dos detritos e dar um trato na areia depositada no fundo. “A areia é importante como filtro biológico para o crescimento de bactérias benéficas à qualidade da água”, explica o biólogo.

Tudo azul

Depois dessa cena inusitada, que mais lembra um filme ambientado no fundo do mar, devido ao tom azulado da iluminação especial, o biólogo mostra como é feita a filtragem de 1 milhão de litros que abastecem os tanques e são bombeados de um poço artesiano dentro da fundação. “A circulação da água funciona 24 horas por dia, sendo feita, toda semana, a troca de 10% a 20% do total existente no tanque, para limpeza dos filtros e manutenção da qualidade de água”, diz Thiago, mostrando o complexo sistema de canos, bombas, filtros e registros que ficam atrás dos tanques, numa área restrita aos funcionários. Lá está a garantia do perfeito funcionamento do sistema. Os filtros são peça fundamental em todo processo, com várias modalidades. Tem os de areia, de zeolita, um mineral, para uso em emergências, de ozônio, de carvão ativado e ultravioleta.
Por trás do lento desfile dos peixes, há o trabalho pesado e diário da equipe que cuida dos aquários e trata de avaliar uma série de parâmetros, como temperatura, nível de acidez (pH) e de oxigênio dissolvido. Duas vezes por semana, é avaliada a qualidade da água, com indicadores como alcalinidade, dureza, concentração de amônia, nitrito e nitrato. Thiago conta que, no inverno, a temperatura deve ficar em 23 graus, nunca abaixo disso, para não causar doenças aos peixes, enquanto, no verão, a variação fica entre 26 e 27 graus. Embora o ambiente seja fechado, as alterações nos termômetros são importantes para os animais perceberem as mudanças climáticas e se sentirem mais de acordo com o seu hábitat, que inclui ainda pedras moldadas em fibra de vidro, galhos de árvores e plantas aquáticas naturais.
Outro setor fundamental é o laboratório de ictiologia, onde peixes recém-chegados ficam em observação no período de quarentena, de 30 a 40 dias, fazendo uma série de exames para evitar a contaminação do plantel. A alimentação também passa por critérios rigorosos e ninguém pense que os exemplares vivem só da ração balanceada servida diariamente. Na dieta, entram também carne, devido à proteína, frutas, legumes e peixes mortos.


Mundo líquido

De volta ao outro lado desse mundo líquido, dá gosto ver o rosto das crianças enquanto apontam os peixes ou simplesmente hipnotizadas pela tranquilidade dos “nadadores”. Acompanhada da mãe, Renata Cristina Farias Sales, e do primo Marcelo Júnior de Farias Moura, a pequena Sabrina, de 8 anos, gostou de tudo o que viu. “Nossa! É muito legal!”, afirmou, com um sorriso entusiasmado. Na tarde ensolarada, o auxiliar administrativo Giovanni de Almeida curtiu o passeio com a filha Ana Clara, de 9, animada com as belezas desse mundo em estado líquido. Um universo que fascina também adultos, como do professor de veterinária da Universidade Federal de Lavras (Ufla) Sérgio Bambirra, para quem “o aquário daqui melhor é do que o de São Paulo”. Para o biólogo Thiago Carvalho, da Fundação Zoobotânica, o aquário é um lugar de diversão, mas também espaço fundamental para educação ambiental e conhecimento.

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Fonte: Site UAI

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