terça-feira, 31 de maio de 2011

Falta de oxigênio deixa peixes sexualmente confusos


A falta de oxigênio pode deixar as pessoas meio tontas, mas os efeitos nos peixes corvinas do Atlântico Norte vão bem além disso: seus órgãos reprodutivos entram em crise de identidade.Pesquisadores descobriram que, em um ambiente carente de oxigênio, as peixes fêmeas começaram a produzir esperma em seus ovários. E pior: segundo Peter Thomas, da Universidade do Texas, em Austin, EUA, os casos de hipóxia (baixo teor de oxigênio no ambiente) aumentaram dramaticamente nos últimos 25 anos em todo o mundo.“Este é o primeiro estudo a mostrar um efeito biológico importante – e já de cara preocupante – da hipóxia sobre animais como os peixes. Isso pode ter um grande impacto sobre toda a população a longo prazo”, ressalta.Zonas mortas – regiões onde o oxigênio é escasso demais para existir vida – ocorrem em todos os oceanos do mundo, mas são muito mais comuns no Hemisfério Norte. Lá, a alta concentração populacional ao longo do litoral resulta em mais poluição nas águas e, portanto, mais crescimento de algas, que sugam todo o oxigênio disponível.Populações de peixes em declínio pode ter um tremendo impacto não só sobre o ecossistema na água, mas sobre a pesca local e a economia da região.A zona morta no Golfo do México é causada pelo escoamento de fertilizantes agrícolas, como nitrogênio, dos estados do sul dos EUA. Esse escoamento estimula a formação de algas que se alimentam de oxigênio, deixando menos do gás para o resto dos animais. A área de 22.126 quilômetros quadrados de água com baixo oxigênio é equivalente ao tamanho de Israel.Os pesquisadores estudaram os peixes capturados durante vários anos nesta zona morta para observar como foram afetados pelo ambiente desfavorável.Thomas e seus colegas descobriram que muitos dos peixes apresentavam sistemas reprodutivos gravemente prejudicados. Os machos possuíam baixa contagem de espermatozoides. E os poucos espermatozoides presentes ainda tinham baixa mobilidade. As fêmeas, por sua vez, apresentavam um número abaixo da média de ovos, que não amadureciam corretamente. Os pesquisadores também notaram que havia mais machos do que fêmeas.A descoberta mais surpreendente, porém, de acordo com Thomas, foi que cerca de 20% das fêmeas possuíam esperma em seus ovários. O ambiente de baixo oxigênio havia interrompido o seu desenvolvimento sexual, confundindo seus órgãos reprodutivos e maturando células sexuais masculinas, ao invés de femininas. Eles observaram os mesmos resultados em corvinas do Atlântico criadas em laboratório sob condições de baixa oxigenação.Segundo os cientistas, a disfunção sexual pode ser uma estratégia para poupar energia. Tendo em vista a dificuldade em conseguir o oxigênio necessário à vida, os peixes “desligam” as funções não vitais, no caso, seus sistemas reprodutivos. Isso não é problema durante apenas um ano, mas quando a zona morta permanece no local ano após ano, ela pode levar a quedas graves na população ao longo do tempo.“Poderíamos ter um enorme impacto sobre os pescadores e a economia, bem como um impacto ecológico. Isso pode culminar até na extinção local de espécies”, acredita Thomas.Os pesquisadores vão continuar a acompanhar os peixes do Golfo e de outras zonas mortas. Eles também estão construindo modelos em laboratório, com base no que encontraram no mar, para determinar o que vai acontecer com a população ao longo do tempo caso as condições adversas se mantiverem.

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Fonte: hypescience

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