sábado, 3 de setembro de 2011

Novas espécies de peixes


A expedição Guariba-Roosevelt, que percorreu quatro unidades de conservação no Noroeste do Mato Grosso, pode ter trazido à luz quatro novas espécies de peixes. A região abriga os últimos remanescentes de floresta do Estado, que hoje é um dos campeões no crescimento do desmatamento, segundo dados do próprio governo federal.
A descoberta das quatro espécies de peixes foi realizada em rios de cabeceira. Os animais que mais chamaram a atenção dos pesquisadores durante os trabalhos em campo foram um lambari pescado numa região de campinarana (áreas de campos amazônicos), próxima ao Rio Roosevelt, e um bagre coletado nas imediações do Rio Madeirinha. O que leva os pesquisadores a crer que são espécies novas são suas características físicas. “Essas espécies indicam um alto endemismo na região, o que pode nos ajudar a compreender o padrão de evolução das espécies na área. E também levantar hipóteses sobre o que pode estar fazendo algumas dos peixes coletados estarem desaparecendo e ameaçados de extinção”, diz James Machado, um dos biólogos responsáveis pela coleta e pelos estudos que comprovam a descoberta – feita em parceria com os pesquisadores SolangeArrolho, da Universidade Estadual de Mato Grosso, e Rosalvo Rosa Duarte do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBIO) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).
Os peixes coletados foram levados aos laboratórios da Unemat, em Alta Floresta, a 830 quilômetros da capital Cuiabá. Lá, estudos mais detalhados vão comprovar se são de fato novas espécies. A pesca ilegal e os garimpos foram as principais ameaças à biodiversidade encontradas na região. A Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso chegou a fazer uma autuação na área durante a expedição. “Apesar disso, ainda constatamos que muitas das áreas permanecem intactas, apesar da proximidade e da facilidade de acesso pelas cidades no entorno”, diz Machado.
“Todas essas descobertas indicam a grande biodiversidade que ainda há para ser descoberta na região”, afirma também Mauro Armelin, diretor do Programa Amazônia do WWF-Brasil. ‘”São muito raras para a ciência essas novas descobertas, mas acredito que isso ocorra pela escassez de pesquisas. Perdemos a chance de conhecer espécies antes mesmo que estas desapareçam pelo desmatamento”. O último levantamento de fauna e flora que ocorreu na região foi nas décadas de 1970 e 80. “São regiões pouco estudadas. A grande maioria dos levantamentos de ictiofauna hoje acontece em grandes rios, ou no mar”, afirma Machado. O primeiro levantamento científico na região aconteceu quase cem anos atrás. A expedição foi coordenada pelo marechal Cândido Rondon e pelo ex-presidente americano Theodore Roosevelt, entre 1913 e 1914. Eles foram responsáveis pelo mapeamento do rio batizado em homenagem a Roosevelt. Muitos animais coletados na região fazem parte hoje da coleção científica do Museu Smithsonian, em Washington, nos EUA.

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