Peixes conhecidos como truta de coral, que vivem na região
da Grande Barreira de Coral, entre a Austrália e a Papua-Nova Guiné,
estão com câncer de pele, na imagem, espécie saudável com coloração
normal
(J.E. Randall/CC)
VEJA - Pela primeira vez, cientistas da universidade de Newcastle, na
Grã-Bretanha, e do Instituto Australiano de Ciência Marinha, detectaram
sinais de câncer de 'pele' em peixes que habitam a região da Grande Barreira de Corais, entre a Austrália e a Papua-Nova Guiné, bem abaixo do maior buraco da camada de ozônio. O estudo foi publicado no periódico científico Plos One.
A doença foi encontrada em peixes da espécie Plectropomus leopardos,
conhecido como truta de coral, abundante na região. Os peixes
apresentaram manchas negras no couro, algumas cobrindo quase todo o
corpo do animal, outras atingindo parte da área.
Manchas negras são indícios de câncer de pele em trutas que vivem no Grande Recife de Corais
Dos 136 peixes analisados, 15% apresentaram essas
lesões. Para Michael Sweet, da universidade de Newcastle e coordenador
do estudo, os números são significativos.
“Concentramos esforços nesta espécie de truta, mas durante a pesquisa
percebemos padrões parecidos de melanoma em pelo menos outras duas
espécies que vivem na mesma área”, falou. “As amostras são de peixes com
câncer de 'pele' superficial. Mas como o animal fica mais vulnerável ao
desenvolver a doença, se locomove menos e come pouco, acreditamos que
eles se tornam presas fáceis da pesca e, por isso, pode haver mais casos
de doenças nos animais marinhos”, falou.
Câncer em peixes – Até então, casos de câncer de
'pele' em peixes só era conhecido em espécies usadas dentro de
laboratórios, para estudo da evolução da doença. Nestas espécies, genes
que sofriam mutação passavam a produzir melanoma desenfreadamente. Fora
do laboratório, esta é a primeira vez que a doença é descrita.
Buraco na camada de ozônio – Michael Sweet ainda não
diz categoricamente que o câncer no couro dos peixes é causado pela
exposição extensiva aos raios ultravioleta devido ao buraco na camada de
ozônio na região. Segundo ele, outros estudos mais conclusivos precisam
ser feitos para comprovar a hipótese.
No entanto, Sweet afirma que os padrões de melanoma nas trutas são os
mesmos apresentados em peixes de laboratório alterados geneticamente
para desenvolver a doença. Segundo Sweet, isso pode ter ocorrido também
com a espécie estudada.
“Dado o cenário de alterações climáticas e as mudanças constantes no
ambiente de corais, entender a causa da doença é importante para
contribuir para preservação dos recifes de coral e seus habitantes”,
falou Sweet.
O próximo passo será estudar uma amostra maior de peixes para tentar
determinar a extensão da doença na população de animais marinhos e os
reflexos dessa doença no modo de vida dos cardumes.
Entrevista
Michael Sweet
Pesquisador da Universidade Newcastle, na Grã-Bretanha
Pesquisador da Universidade Newcastle, na Grã-Bretanha
Como começou essa pesquisa?
Estávamos fazendo uma pesquisa sobre doenças em recifes de coral na
Ilha Heron, na Grande Barreira de Corais, e ao mesmo tempo um grupo de
pesquisadores do Instituto Australiano de Ciências Marinhas conduzia
outra pesquisa com tubarões e suas presas, que são as trutas de coral.
Por muitos anos eles percebiam manchas escuras nos peixes, mas não
sabiam a quem recorrer. Eu me ofereci para estudar a doença.
Inicialmente achávamos que era um fungo, mas a análise mostrou que se
tratava de uma produção desorganizada de melanina, indício de câncer.
Esta é a única espécie de peixe com câncer?
No início da pesquisa, focamos apenas em trutas de coral. No entanto,
logo descobrimos os mesmos sintomas em outras duas espécies de truta da
região. Com a divulgação da pesquisa esperamos encontrar ainda mais
relatos de casos semelhantes.
Esse tipo de câncer já havia aparecido em peixes antes?
Qual é a causa desta doença em peixes?
Precisamos de mais pesquisas para determinar a causa, mas nosso estudo
mostra que não se trata de doença microbiana. No entanto, encontramos
relação forte entre as nossas amostras e os peixes de laboratório com
câncer, o que sugere que a exposição aos raios UV-B é a causa mais
relacionada ao câncer no couro de peixes. Isso está associado a uma
maior prevalência da doença em peixes que estão abaixo do buraco da
camada de ozônio, no hemisfério sul, reforça nossa hipótese. No entanto,
mais pesquisas precisam ser feitas para comprovar essa tese.
Grande Barreira de Corais, na Austrália, onde os peixes foram
coletados para análise; 15% da amostra apresentou sintomas de câncer de
pele
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Fonte: Revista Veja
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