segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Os peixes também piram

130221-Perca

Na Suécia, um estudo sugere: concentrações de drogas psiquiátricas presentes nos rios podem ser suficientes para alterar comportamentos de espécies fluviais e seus ecossistemas.

Por Bruna Bernacchio

Considerado por muitos como abusivo e prejudicial, o consumo crescente de medicamentos psiquiátricos pode estar afetando também outras espécies animais. É o que revela um estudo de cientistas suecos, publicado há uma semana (14/2) pela revista Science e resenhado pelo New York Times. A pesquisa partiu de algo sabido: excretadas pela urina ou descartadas, drogas anti-ansiedade como Oxazepam contaminam a água dos rios e estão presentes no cérebro dos peixes fluviais. Os cientistas quiseram testar, então, de que forma estas substâncias poderiam afetar o comportamento destes animais e seu habitat.
Para tanto, filhotes de perca foram capturados, divididos em três grupos e criados em aquários com três concentrações distintas de Oxazepan: a) zero; b) três vezes mais alta que em seu ambiente natural, o Rio Fyris; c) 1500 vezes maior. Os cientistas constataram que, quanto mais Oxazepam os peixes ingeriam, mais ativos e menos sociais se tornavam. Eram mais rápidos para pegar e ingerir zooplâncton. Apresentavam-se mais ousados e destemidos. Passavam menos tempo com outros peixes e mais tempo isolados.
Tomas Brodin, professor assistente de ecologia na Umea University e um dos coordenadores da pesquisa, relatou que a mudança de comportamento era visível, em suas aparições no local da pesquisa. Os peixes não-expostos à droga “estavam basicamente escondidos”; mas os outros, “apareciam para me cumprimentar: eram totalmente diferentes”. Ele considerou que esta mudança poderia afetar o ambiente de distintas maneiras. As percas estimuladas pelo Oxazepan poderiam tornar-se predadores mais hábeis; ou presas mais desprotegidas, devido a seu destemor.
Exceto no caso dos peixes criados livres de Oxazepan, os dois outros grupos foram, submetidos, é verdade, a concentrações da droga não existentes nos Rio Fyris, que banha Uppsala – uma cidade de 140 mil habitantes. Mas qual será a presença do medicamento nas águas das grandes metrópoles globais?
A contaminação de peixes por medicamentos psiquiátricos e por hormônios humanos sintetizados já havia sido constatada anteriormente. Nos EUA, estudos revelaram a presença de antidepressivos como Prozac e Zoloft nos cérebros de peixes fluviais, nos estados de Colorado e Iowa. No Rio Potomac (que banha a costa nordeste norte-americana e a capital, Washington), foram encontrados peixes machos que desenvolveram características sexuais femininas.

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